Recordo o Neruda que me fez sorrir... sofrer...
"Quero que saibas uma coisa
Sabes como é
Se contemplo a lua de cristal
Ou os ramos rubros do Outono lento da minha janela
Se toco ao pé do lume a impalpável cinza
Ou o corpo enrugado da lenha
Tudo a ti me conduz.
Como se tudo o que existe: aromas, luz, metais...
Fossem pequenos barcos que navegam em direcção
Às tuas ilhas que me esperam
Ora bem,
Se a pouco e pouco deixas de amar-me,
Deixarei de amar-te, a pouco e pouco.
Se de repente me esqueceres, não me procures,
Pois já te terei esquecido.
Se consideras longo e louco o vento das bandeiras
Que percorre a minha vida
E decidires deixar-me
À margem do coração em que tenho raízes,
Pensa que nesse dia, nessa hora,
Levantarei os braços e as minhas raízes irão procurar outras terras.
Mas,
Se em cada dia, e em cada hora,
Sentes que a mim estás destinado com doçura implacável
Se em cada dia, e em cada hora,
Dos teus braços nasce uma flor que me procura,
Ah, meu amor,
Todo esse fogo em mim se renova
Em mim nada se apaga nem se esquece,
O meu amor do teu vive e, enquanto viveres, continuará nos teus sem abandonar os meus..."
Voltei a deparar-me contigo, a ler-te e a chorar-te. Senti as saudades que ainda não consigo abandonar. Mas já não me prendi. Já te deixei. Já voltei ao que era meu. Ao que tento voltar a ser. Agora quero ser feliz, deixa-me. Agora vou sorrir de novo e acreditar que ainda sei sorrir!