terça-feira, novembro 29, 2005

Pára-me isto...

Qual a sensação de não chorar compulsivamente até sufocar?

Qual o fardo maior que podemos transportar aos ombros?
Quanto tempo podemos estar a chorar ininterruptamente?
Quanto peso de desilusões podemos acumular até desistirmos?
Quantas perguntas podemos colocar sem lhes dar resposta?

Quando pararão as lágrimas de me queimar o rosto? Quando serei eu capaz de erguer a face e voltar a ter o sol nos olhos?

Já sei quais os fantasmas que me atormentam mas sinto-me a perder a batalha com eles. Nunca irão desaparecer e eu não lhes posso fugir.

Apenas queria abrir os olhos e não me ver ao espelho. Queria fechar os olhos e não sonhar o que sonho nem sentir o que sinto. "Apenas" afinal é imenso.

Consegues fazer-me parar de chorar, assim, compulsivamente? Consegues? Eu já não... e não aguento viver assim!

sábado, novembro 26, 2005

"Estás bem?"

"Estás bem?" - perguntaram como quem realmente quer saber.

Não consegui responder.

Queria poder ter dito: "não, não estou, sei que não estou nada bem." Mas disse apenas que estou na mesma!, como se isso adiantasse o que quer que seja. Sei que me entenderam, talvez como se a resposta tivesse sido a mesma de há semanas, meses ou anos. Mas, não é. Passaram semanas, meses, anos, desde o momento em que não estava bem. Agora não estou, agora sinto que não tenho nada pelo que estar, pelo que ser o que quer que seja. Qualquer reacção que me leve organicamente a sorrir é inexistente por inerência espontânea. Sorrio, muito, a tudo e todos porque esperam o meu sorriso. Mas, é apenas um mostrar de dentes sem que o meu ser o esteja a fazer na realidade.

Estou mal, mas prefiro não acreditar na decadência da alma, compensada por um corpo que sofre horas em exercícios extenuantes e intermináveis. Sim, o corpo pode sofrer mas a alma já não suporta nem tolera mais pesos, mais repetições, mais golpes.

Estou acabado, sinto-me acabado.

Até o texto perde essência a cada frase, a cada palavra, a cada letra...

Mas, não sou eu quem se sente assim. Não apenas eu. Existe um mundo de gente à minha volta que poderia escrever cada linha dos meus textos. Há tanta gente que sente o que eu sinto, que olha para o mundo com desgosto, por não ser o que era, por não ser o que poderia ser, por não ser o que cada um de nós gostaria que fosse.

Será que existe Céu? Será que existe realmente um Outro Lado? Espero que não. Não quero voltar a encontrar um vazio como aquele que existe do Lado de cá! Quero mesmo que não haja nada. Não quero encontrar nada. Quero apenas aquele tão desejado ponto final. Será tão difícil isso? O ponto final?

"E a tua mãe?" - perguntaram como quem realmente quer saber.

Pois, é esse cordão umbilical que agora não consigo cortar. Cada vez me custa mais tentar. Outrora a dificuldade era nula, a preocupação inexistente. Mas, ninguém pode ter o direito a um egoísmo destes. Não podemos viver por outros, tal como os outros não deveriam morrer por nós. Nem eu tenho o direito de ir matando, aos poucos, sem conseguir fazê-lo a mim...

Continuo o covarde que deseja algo que não tem a coragem para deixar de o desejar!

quinta-feira, novembro 24, 2005

Será?

Será a minha dor, provavelmente, um mero masoquismo autoinflingido, como uma espécie de megacomplexo de superioridade ao qual reconheço não ter direito?

Que tenho eu de especial? O que há em mim que suscite tanto ou tão pouco? Como posso eu ser o responsável pelo turbilhão de sentimentos, emoções e sensações que provoco ao meu redor?

De onde veio esta minha energia que expus ao mundo durante um quarto de século? E para onde foi? Onde me perdi e onde se perdeu tudo aquilo que me fazia ser tudo aquilo que os outros me julgavam ser?

Talvez se eu tivesse autoconfiança suficiente pudesse voltar a sorrir daquela maneira e talvez pudesse voltar a ser quem toda a gente - menos eu - acha que sou!

Talvez! Mas, como não me vejo tão gigantesco, como o meu ego não é capaz de preencher o personagem, ele permanece flutuando na ilusão de quem me rodeia, daqueles que permanecem olhando para cima enquanto ele voa, sem me verem cá em baixo, fetalmente agachado, esperando o dia em que o balão deixe de conseguir pairar sem leme...

domingo, novembro 20, 2005

Sem título

A cada dia que passa as estratégias para fugir ao convencional destino a que me vejo proposto escasseiam. A ideia aterroriza-me: não ter para ou por onde fugir. Ter que me limitar a algo já desenhado e traçado.

De todo o lado à minha volta surgem palavras que não consigo ou não quero entender, como que se eu já soubesse que não as posso escutar com atenção alguma correndo o risco de poder acreditar nelas.

Os dias passam, com o sol e a lua a alternarem entre eles como o meu estado de espírito faz dentro de mim. A minha polaridade está cada vez mais acentuada. Cada vez mais me vejo como mais do que um. A minha essência perdeu-se ao longo dos personagens que já viveram a minha vida e já não se reconstitui como a original.

Quando representamos demasiados papéis, quando lidamos com demasiadas pessoas e demasiadas situações vemo-nos coagidos inconscientemente a fragmentarmos aquilo que outrora nos mantinha unos. Em duas décadas dei demais de mim, sem me preocupar em ir repondo. Mesmo quando não havia ninguém para receber, eu dava, desperdiçava aquilo que nunca pensei ver escassear: eu!

Já não acredito. À minha volta as mentiras e as desilusões abundam como esporos de fungos e bactérias em cadáveres. E é assim que eu me sinto: um cadaver, um mero cadaver ambulante.

Sinto, no entanto, que em breve isto irá mudar. De uma forma ou de outra, ou deixarei de ser cadáver... ou andante.

quinta-feira, novembro 17, 2005

Falto eu?... Não!

Ontem percebi muita coisa.

Ontem falei, muito, ou até talvez muito pouco. Ontem apenas ouvi. Apenas me fiz falar nas palavras proferidas por outrém. Sim, ontem mais do que ouvir escutei e percebi. Percebi muita coisa.

Quando saio ao mundo reencontro sempre caras conhecidas ou sou reconhecido. Não é uma questão de solidão que aqui escrevo. É mais do que isso, é estar sozinho não o estando.

A frase que me fez perceber foi muito simples. Eu no fundo nunca estive num grupo, nunca fiz parte de nenhum, porque estava em todos os que havia à minha volta. Sempre tive medo de perder as pessoas, por isso nunca ficava o tempo suficiente para que elas saissem antes de mim. E assim, eu nunca fui, não sou nem serei aquele sobre quem dirão:

"Estamos cá todos, só falta mesmo ele!"

Apesar de tudo, apesar de haver tanta gente a gostar de mim e da minha companhia, a sorrirem quando apareço, nunca serei aquele que irá faltar!

quarta-feira, novembro 16, 2005

Poema

Pesa-me o tempo, pesa-me a vontade. Pesa-me toda esta inércia de não conseguir viver.

Custa-me o dia, custa-me a hora. Custa-me o minuto que tenho que respirar.

Peno por tudo, peno por nada. Peno por não conseguir fazer.

Choro por mim, choro por alguém. Choro por ninguém me fazer amar.

Desisto.

Não há palavra de alento que me faça seguir,

Nem rimas, nem versos, nem prosas... já não existe alma nisto...

Não há palavra que me ponha em pé, que me faça andar nem tampouco me faça sorrir.

Quero o tempo em que não existia, quero voltar a não haver.

Quero chorar, sonhar e morrer!

sexta-feira, novembro 11, 2005

Queres que te fale?

Queres que te fale? Quanto tempo tens? Falo-te do meu passado ou daquilo que quis ter vivido? Falo-te do meu presente ou digo-te apenas quem penso ser? Falo-te do meu futuro ou digo-te apenas o que quero lá encontrar?

Queres que te fale? Quanto tempo tens? Tens todo o tempo do mundo e mais o que sobra para me poderes ouvir em toda a plenitude das minhas palavras? Tens tempo para ouvir as divagações esquizóides da minha imaginação? Ou apenas queres que relate a minha vida até à ténue fronteira da minha sanidade mental?

Queres que te fale? Quanto tempo tens? Queres que responda aos questionários vagos da curiosidade de quem me rodeia ou queres esclarecer o mundo com as respostas que ainda não soube ter encontrado? Queres que te relate os meus sonhos e as minhas desilusões? Ou queres apenas que comente aquilo que queres de mim? Queres mesmo saber quem sou ou apenas satisfazer-te com soluções fáceis?

Queres mesmo que te fale? ... quanto tempo tens?

sexta-feira, novembro 04, 2005

Voltar a casa.

Voltara.

Regressara.

Regressara à terra que outrora havia sido minha. A um berço que abraçara com carinho. Mas, não me sentira em casa. Já não.

Senti estranheza. Senti-me ausente. Senti-me um estranho. Já não reconhecia, naqueles momentos de solidão, os meus recantos, os locais onde tantas outras vezes aninhei a minha alma.

Foi aos poucos, a pouco e pouco, da mesma forma como a convidei a entrar quando guardava em mim a pureza da minha infância, que nos habituámos um ao outro, que ela sentiu o o meu toque, o toque dos meus passos, leves, e eu lhe reconheci o cheiro, o ruído da vida que por ela passa.

E fomo-nos voltando a fazer aconchegados. Por nós e por tudo o que nos fazia.

Sabe bem estar em casa. Sabe melhor ainda sentir que a recuperámos. Entristece saber que a perdemos, mas é bom tê-la de volta. Só aperta o peito quem já não está. Quem foi a saudade da partida. Quem não volta a estar. Quem perdemos.

Mas, onde quer que esteja, sabe bem estar em casa porque estará sempre lá, será sempre lá.

Regresso, agora, para longe novamente, para que possas sentir saudades minhas uma vez mais. Só não quero que me voltes a estranhar. Não te posso deixar tanto assim. Não mais, nunca mais.

Despeço-me de ti sabendo que voltarei.

Voltarei em breve.

Sim, em breve, voltarei a casa.

Mais uma vez…

Mais uma vez, quando me desliguei da minha realidade aparente e entrei no mundo dos comuns mortais que coabitam inospitamente os meus espaços, desiludi-me. Fiz-me crer em algo que não existia, que naturalmente não podia existir, mais uma vez, fora do meu mundo, criado por e para mim.

Mais uma vez tentei sair, mais uma vez tentei acreditar, tentei ver o que não estava lá, tentei forçar, ou talvez forçar-me, a mim, apenas a mim, a sorrir ou a ver o destino e o mundo sorrirem-me, por uma vez mais, por mais uma vez. Errei. Errei porque afinal tinha razão, porque afinal tenho sempre tido. Não vale a pena querer acreditar que algo mais que as minhas desilusões poderão cruzar-se comigo no meu triste e amargurado fado. Sou assim. Fui sempre e serei sempre assim. Triste.

Sim, mais uma vez estou triste, mais uma vez perdi a esperança em acreditar que algo mais que as minhas desilusões e frustrações existe. Mas, é apenas mais uma vez. Apenas mais uma singela vez. Uma de, provavelmente, muitas.

E mais uma vez, a lágrima poisa no canto, a querer verter, mas não cai. Desta vez ela não cai, porque não tem porque cair. Não tem por quem cair. Mas, está lá, mais uma vez, a avisar-me que não aguentará muito mais, que em breve irá escorregar, se eu próprio escorregar também nas ardilosas tramas do caminho que percorro.

Mais uma vez escrevo, sem querer escrever as palavras que me sufocam a alma. Mais uma vez me visito no meu canto e me encontro igual a todo o sempre…

Mas, é apenas mais uma vez…

quarta-feira, novembro 02, 2005

Os olhares de um cego

Olho, por mais que não queira, incessantemente, inevitavelmente, como que com uma pequena réstia de que surja no horizonte do meu olhar a prova de que afinal ainda vale a pena, de que ainda algo é possível.

Olho, mas apenas por olhar, sem qualquer vontade nem intenção, ciente de que ali nada há que não existisse noutro momento, noutro tempo, noutros olhares.

Olho, indiferente. Indiferentemente.

Olho, de pálpebras cerradas, de sonhos fechados, de ilusões enterradas.

Deixei de olhar.

Fechei os olhos de vez e morri. Perdi-me no meu próprio mundo.

Não. Não me acordem. Deixem-me assim, consciente, inconsciente, morto e inerte, para não ter de olhar mais… para nada ver.

Deixem-me assim, suspenso no vazio que se tornou o meu olhar. Cego, assim, não quero viver.

Deixem morrer o corpo, deixem morrer a alma, deixem, porque o meu olhar já morreu. E, cego assim não quero viver.