terça-feira, maio 31, 2005

O meu átrio

Saudades do meu átrio. Hoje pulula de vida e de gente. Está fabulosamente colorido pelas pessoas que nele estão e que por ele passam. Faz-me recordar quase uma década aqui passada, de histórias, risos e partilhas, sorrisos e pensamentos, mãos, abraços, beijos, na face, no pescoço, na alma, de perto e de longe, recordo quente e frio, cor e cinzentos, tanto, tanto, que este átrio me faz recordar.

Sinto que me fiz aqui, em encontros e desencontros, em pessoas que já foram, que estão ou que acabaram de chegar. Em livros que reconheço, em páginas que nunca li, em folhas, papéis, imagens. Sinto-me como se de um peça desta mobília me tratasse. Como se, tendo-me eu aqui feito, aqui devesse e pudesse continuar, como pertencente ao mesmo conjunto.

Queria fundir-me, com estas paredes, estas colunas, este chão. Queria ser este rosa e este branco, ou o beje e preto. Queria ser a luz que vem de cima, ou o fresco da brisa que percorre entre as portas da fachada e os vaivéns do corredor.

Queria ser o centro e a periferia. Queria ser tudo e, no fundo, quero ser parte, quero apenas ser, neste átrio.

E a saudade sente-se porque em breve me vou. Sem nunca ir. E hei-de sempre por cá ficar.

Esta é a minha casa. E este: este é o meu átrio.

segunda-feira, maio 30, 2005

Duas dezenas III

Dois vezes dez vezes três são sessenta, o número que ainda vais ter que me aturar...

Adoro-te, sabes disso, não?

Vá, sorri, que a vida tem mais de bom que de mau, tem mais para viver que para esquecer, tens mais do que aquilo que a gente por vezes pensa... A nostalgia e a tristeza só servem para escrever poesia em prosa e fazer remoer as memórias de uma forma que só fazemos porque queremos...

"Não chores por não veres o sol pois as lágrimas irão impedir-te de veres o brilho da lua!"

Duas dezenas II

Talvez isso seja amor. Talvez seja esse o sentimento que pensei já ter sentido e talvez nunca tenha passado de uma palavra para mim. Mas... pensa se valerá a pena viveres assim. Se as escolhas que fazes são as mesmas que farias se tivesses outro passado. Pensa se decides por tua vontade ou por teu medo.

Quero-te bem, sabes disso. Mas talvez seja egoísta e nos queira, a nós, mais bem ainda. Sê feliz, sem, no entanto, deixares de ser quem és... ou quem eras.

domingo, maio 29, 2005

Home alone!

É para mim sempre uma emoção ficar "home alone". É uma certa alegria ao estilo Culkin, em que tenho a casa só para mim e posso desarrumá-la o que quiser, quando quiser, até que chega um momento em que tomo consciência de que devo ser responsável pela minha casa e então, arrumo tudo e deixo-a constantemente impecável.

Arrumada já está a ficar, aos poucos. Comecei, ao contrário do que seria de esperar, pelo meu quarto. Mas não da forma normal. Arrumei tudo. Pus o meu passado numa caixa. Todo ele. Tudo. Fotos, bilhetes, cartas e postais, bilhetes e flores secas, memórias e recordações. De tudo e todos. Agora, recomeço-me. Definitivamente. E o meu quarto está limpo... e arrumado. Assim como eu.

Estou verdadeiramente livre... no attachments... Finalmente. E sinto-me mais leve, sem aquele pó do passado a impedir-me de respirar livremente.

Agora, é só inspirar e seguir em frente.

Duas dezenas

Entendo o que sentes. Ou talvez não sintas nada do que entendo e isto seja apenas um fantasma meu, uma criação dos meus próprios medos passados. Talvez tenhas medo que te aconteça o mesmo que me aconteceu, talvez tenhas medo de que te volte a acontecer. Talvez tenhas tu mais medo da solidão que eu. E agarras-te, com tudo o que tens, para não ficares só.

Talvez eu devesse ter feito o mesmo. Talvez eu me devesse ter agarrado para não perder quem perdi. Mas, ainda bem que não me agarrei. Ainda bem que perdi. Ainda bem que consegui libertar-me. Mas... tu talvez não consigas. Talvez aches esta a tua última oportunidade. E, assim, abandonas e trocas quem há muito cá está, porque sabes que há-de continuar, por muito que magoes e troques, por muito que deixes de lado e substituas. Sabes que continuarei. Muitas vezes, não por querer, mas por já o fazermos há quase duas dezenas...

Ambos temos estado.

Mas, em muito, já não te conheço, já não reconheço a independência e determinação de outrora. Agora, vejo até uma subjugação, uma auto-escravização por ti imposta a outra pessoa que não a tua! Pergunto-me por vezes quem és; mas como também sobre mim faço essa pergunta, mais do que frequentemente, não procuro resposta.

Mas, tenho saudades de quem conheci... há duas dezenas.

sexta-feira, maio 27, 2005

Reconstrução... de pouco em pouco.

Se de pouco em pouco duma rocha se faz uma praia e se de pouco em pouco de carvão se faz um diamante, esperança tenho que de pouco em pouco das lágrimas brotem os sorrisos e que de pouco em pouco daquele imenso nada, nada fique.

Passa o tempo e esqueço, de pouco em pouco, aos poucos, até que nada resta. Mesmo quando comigo vem ter, custa-me, por vezes, reconhecer que já me foi familiar. É incomparável o esquecimento que forcei ou que naturalmente se forçou a existir. Recebo um sinal de que ainda respira e tento recordar aquilo que chegou a ser para mim... mas, chego ao ponto de tentar recordar quem era na sua mais mínima essência. E não consigo.

A pouco e pouco, de pedra se faz areia e de areia se faz cimento. Com o cimento constrói-se. Mas, depressa tudo pode ruir, não pouco a pouco, mas de uma só vez. E quando o esquecimento vem assim, não há tempo para o pouco a pouco.

Agora, a areia já não volta a ser pedra... e eu já não consigo recordar.

quarta-feira, maio 25, 2005

Chaise-longue e sol

Que bem que me soube estar ontem a sentir o calor do sol, numa cadeira à beira-mar, a beber uma dessas novas refrescantes águas com gás e sabor e limão. Estava a precisar recordar o sabor de férias e de liberdade e paz. Aconselho a qualquer um este bem-dito remédio para qualquer momento menos positivo... Já nem sequer me lembrava das minhas coisas que haviam desaparecido...

Aguardo por qualquer outra oportunidade para sentir a leveza desta estranha liberdade...

segunda-feira, maio 23, 2005

Até parece bruxedo!

Quando bicho faz reza, até quase que pega... mas volta para trás em três, não é o que dizem? Que no credo en brujas, perto que las hay, las hay... Mas não acredito, nem em mau olhado, apesar de parecer haver alguém que me quer mesmo muito mal. Mas, não há-de ser isso que me fará desistir.

Realmente, enquanto que há alturas na vida em que tudo nos corre a favor do vento, outros momentos há de constante contradição. Esse parece ser o meu actual momento. Mas, como diria minha mãe, talvez seja um teste à minha perseverança. E acreditem que eu vou passar, com nota de excelência. Agora que desisti de desistir, não fico para trás e levarei meu barco a bom porto.

Podem desejar-me felicidades ou maldades, eu sei quem fará uma coisa e quem fará a outra, mas eu ganharei.


Até lá, até à minha subida ao pódio, aguardem pelas novidades...

Perder o passado...

É horrível quando nos invadem a privacidade. Mas é pior quando a levam... Se há pior sensação do que a de nos tirarem o que é nosso, não quero nem saber...

Costumava dizer "A minha vida é a minha pouchette, e a minha poooooochette é a minha vida!" E tinha razão... Agora que sei o que é mesmo ficar sem nada é que prezo o tão pouco que tinha. Mas, por um lado, ainda bem... Queria recomeçar e agora, mesmo que no fundo não quisesse, tenho mesmo que o fazer. Foram-se as mensagens que ainda não tinha apagado, foram-se os números e foram-se as memórias.

O pior é que perdi o contacto de outras pessoas que não queria perder. Mas, se o destino assim o quiser, eles hão-de cruzar-se novamente comigo.

Por isso, a estes últimos, mandem msg (sim, já tenho segunda via: 96 500 79 74 e 91 791 57 67) com o vosso nome para eu vos incluir quer no meu presente, quer no meu futuro.

Até lá, um abraço e nunca percam o que é vosso de vista. Custa perder o passado. A mim custa por não saber se me vou lembrar de que tive aquele passado. Eram provas, reais, de que tinha vivido. Agora, nada mais posso supor que terei conhecido aquelas pessoas, que fora àqueles sítios, que vivera aquilo...



P.S.: nem me posso queixar das repartições públicas... foi tudo mais ou menos rápido.

sexta-feira, maio 20, 2005

O post do disparate... ou não

A brincar a brincar...

O mundo à minha volta.

As pessoas têm tantas vezes a vil tendência de se prenderem a pormenores negativos que abundam na sua vida que nem reparam nas inúmeras e gigantescas alegrias que tantas vezes lhes passam ao lado ou andam lado com elas...

E comigo isso acontece tanto... Até que há alguém (ainda bem que há) que me dá como que uma bofetada e me desperta, acorda-me os instintos e faz-me separar as pálpebras para olhar, e ver!

As minhas afilhadas, algumas (infelizmente não todas, porque não tenho tempo nem capacidade omnipresente nem omnisciente para estar com toda a gente) mais que outras, são um exemplo disso.

Modéstia à parte, quem é que, se não fosse assim, um mundo de gajo, lindo e maravilhoso como eu (ehehehe, eu avisei que a modéstia não entrava neste capítulo) teria tantas pessoas no início da sua vida adulta a quererem-no para padrinho? E não sou fisicamente nenhum Tom Cruise, Brad Pitt, George Clooney ou Anthony Hopkins (dependendo dos gostos)... que faria se fosse!!


Mas, como eu sou modesto ou, quanto muito, meio cegueta nestas coisas e na outra metade com uma boa dose de tonto, nunca dou conta destas pequenas coisas, deste "ser alguém para alguém". E quando me apercebo disso, sinto-me tão pequenino... a responsabilidade é enorme, o medo de desiludir e de não sermos o que esperavam que fôssemos. Mas tenho que deixar de temer esse imenso elogio que nos fazem quando importamos. E temos que nos sentir bem, temos que merecer essa importância e preocuparmo-nos, fazermos, reagirmos e estarmos lá, onde nos esperam, onde somos precisos ou onde apenas nos querem e sorriem quando chegamos.

E eu tenho sorrisos à minha espera... ou lágrimas que se choram porque o sorriso é grande demais. E eu adoro cada uma das pessoas que me faz chorar assim, e sei que também me adoram e hão-de estar, sempre, no meu coração e ao meu lado.

Adoro-vos: sorrisos!

quinta-feira, maio 19, 2005

Um quase despiste feliz

Qualquer dia ainda me despisto...

Sabem quando estão tão felizes, tão felizes, que nada à vossa volta parece existir a não ser pequenas nuvens e brilhantes estrelas num azul de céu? Pois. Isso é o que eu tenho sentido, mas sentir isso na estrada é perigoso, não só para mim como para os outros.

Ando sempre tão pululante dentro do meu carrinho - perdição do meu coração - a dançar e a cantar, a sorrir, rir e viver (sim, sou meio tolo, mas eu adoro o meu carro e partilho com ele aquilo que me vai na alma), que por vezes me esqueço de que existem outros carros a percorrer as mesmas estradas... e que há semáforos - vermelhos, que é pior -, sinais de trânsito - principalmente os de perda de prioridade - e peões, esses chatos!

Até agora tenho tido sorte, ou melhor, os outros têm tido muita sorte. Vamos lá a ver se eu atino e se não desgraço ninguém, e principalmente, se não danifico o meu menino que ainda há bem pouco tempo teve que fazer uma plástica à frente toda...

Mas, por um lado, isto é tudo um óptimo sinal... é sinal que tou muito bem e que tou feliz... São as pequenas alegrias da vida que fazem a vida parecer enorme...

quarta-feira, maio 18, 2005

Hummm...

Mais do que andar e mais do que correr, quero voltar a voar...

E não, não consumo substâncias psicotrópicas nem bebo red bull... E não tenho passaporte! O que me limita um pouco a vontade de voar... mas nem que tenha que dar aos bracinhos e pular de uma série de telhas, sem partir nenhuma das perninhas ou bracinhos... Voar é como sonhar: sem darmos conta já o estamos a fazer!

E hoje, voltei a vestir os meus calções... Com este tempo, apetece, não é? Ainda não calcei as xanatas, mas pouco falta...

Ah, e vê lá se deixas de ser anónimo, ok?

:)

terça-feira, maio 17, 2005

Sim, andei...

Para quem me conhece, para quem me está a conhecer e para quem possa passar por aqui, perdido no meio de tantas páginas neste mundo, gostaria de avisar que andei, em frente, como seria de esperar dada a minha alta capacidade de mutação sociopessoal...

Ao fim de vinte e seis anos e mais de duas centenas e meia de dias recompus-me e, sem dar por isso, acordei sem pensar no meu passado... Já me tinha acontecido isto antes mas, por mais que eu tivesse querido, não contava que voltasse a suceder tal felicidade. Naturalmente que tenho alegrias no passado que provavelmente lamentarei não recordar, mas certamente que muitas mais terei no futuro, daí ser muito, mesmo muito, benéfica esta amnésia semi-selectiva.

Não desprezo nem rejeito o passado que tenho ou tive, apenas não me é relevante nem significa nada para mim agora. É como uma simples brisa, leve, suave, passageira.

Não sei se foi um processo consciente, nem se tampouco tive alguma vontade sobre tal, mas o certo é que está a acontecer, aconteceu, e já sinto que consigo andar.

E andei. Desta vez, estou a andar. Em frente. Ando sem nada que me prenda ou apenas sem ninguém que me queira prender...

Impressora maldita

Há coisas na vida que me irritam o mais profundamente possível! É o caso desta estúpida impressora! Criada por um mortal para me servir, a burra nunca faz o que lhe mando quando lhe mando.

Já sei, vão dizer que a culpa não é dela, que é apenas um aparelho e que, se funciona mal, é porque alguém a programou mal. Mentira. Isto é uma conspiração por parte das impressoras para me levarem à loucura, à proximidade da insanidade mental...

Mas, não são só as impressoras. O termociclador está constantemente a esconder-me o DNA, a falsificar os meus trabalhos e, esse sim, a levar-me ao extremo de querer atirar tudo o que neste laboratório existe pelo ar...

Melhores dias virão, entre mim e as novas tecnologias estudadas e criadas pelo Homem para me atazanarem o juízo. Até lá, vou contemplando o brilho do sol a reflectir no verde das folhas, enquanto espero pelas outras folhas... as brancas, da impressora.

sexta-feira, maio 13, 2005

Canção de embalar

Ficar

Ai
se eu pudesse não partir,
eu ficava aqui contigo.
se eu pudesse não querer,
descobrir.

Ai
se eu pudesse não escolher,
eu juro, era este o meu abrigo.
Se eu pudesse não saber
que há mais.

Mas, como pode a lua não querer o céu?
Como pode o mar não querer o chão?
Como pode a vontade acalmar um desejo?
Como posso eu ficar?

Ai,
se eu pudesse n partir,
eu ficava aqui contigo.
Se eu pudesse não saber,
que há mais...

Mas, como pode a lua não querer o céu?
Como pode o mar não querer o chão?
Como pode a vontade acalmar um desejo?
Como posso eu ficar?

Como posso eu... ficar?

(em "Apontamento" de Margarida Pinto)

Entenda quem quiser...

O MOSTRENGO

O mostrengo que está no fim do mar
Na noite de breu ergueu-se a voar;
A roda da nau voou três vezes,
Voou três vezes a chiar,
E disse: «Quem é que ousou entrar
Nas minhas cavernas que não desvendo,
Meus tectos negros do fim do mundo?»
E o homem do leme disse, tremendo:
«El-Rei D. João Segundo!»

«De quem são as velas onde me roço?
De quem as quilhas que vejo e ouço?»
Disse o mostrengo, e rodou três vezes,
Três vezes rodou imundo e grosso.
«Quem vem poder o que só eu posso,
Que moro onde nunca ninguém me visse
E escorro os medos do mar sem fundo?»
E o homem do leme tremeu, e disse:
«El-Rei D. João Segundo!»

Três vezes do leme as mãos ergueu,
Três vezes ao leme as reprendeu,
E disse no fim de tremer três vezes:
«Aqui ao leme sou mais do que eu:
Sou um povo que quer o mar que é teu;
E mais que o mostrengo, que me a alma teme
E roda nas trevas do fim do mundo,
Manda a vontade, que me ata ao leme,
De El-Rei D. João Segundo!»

(em "Mensagem", de Fernando Pessoa)

Covardia

Nunca o suícidio foi prova de coragem, antes de covardia... de falta de coragem para enfrentar o mundo... Talvez disso me acusem, e da frustração de ter tentado fugir-lhe vezes demais... Uma vez que se tenta, ir-se-á tentando sempre... e nada mais que isso tenho eu feito...

Achei que este par de anos seria eterno e jamais voltaria a pensar e desejar querer partir, mas a ideia late dentro da minha cabeça, conforta o meu espírito quando me deito...

Não é falta de coragem para o suicídio, agora não. Agora é pelo olhar da minha mãe... é por ela... Ninguém merece que eu parta mais que ela merece que eu fique...

E talvez o que eu sinta não seja amor, nem paixão. Talvez até seja obsessão (aprendamos a escrever a palavra, já era tempo, não?). Talvez o que eu sinta seja medo de estar sozinho, talvez me sinta trocado. Sim, mas quem me trocou não me merece, nada, e por quem fui trocado não me chega aos pés... Posso estar mental e emocionalmente doente e cadavérico, mas no fundo ainda possuo alguma lucidez para reunir os meus dons e saber o que possuo.

Que fiquem os dois juntos. Que sejam felizes. Que me deixem ser feliz. Que me deixem falar. Que me deixem expor o que sinto para que compreendam o mal que me fizeram.

Não sou santo, mas jamais seria cruel a este ponto. Poderia até ter sido mais, mas não sou. Poderia ser hediondo, mas tento apenas desabafar, por palavras. Os meus actos estão contidos, reprimidos, sujeitos ao condicionamento da minha criação. Mas a liberdade do meu pensamento não pode continuar a ser castrada. Foi-o tempo demais. Agora estou livre...

Por isso, eu assino, quando escrevo.

Não é o suicídio que é covardia: é o anonimato!

Devaneios

Todos os dias penso que é o último. Penso que não mais irei ver quem não me quer mais. E engano-me. Vejo, ouço, leio, sinto. Em tudo o que faço está presente este fantasma que não quer deixar de me assombrar. Talvez a culpa seja minha. Talvez esteja realmente a forçar a que apareça, como se a sua presença tenebrosa fosse a única forma de que se apresente a mim. Talvez seja uma alternativa masoquista e auto-flageladora de o ter.

Mas eu sei que não o quero, e sei que foi um erro alguma vez ter querido. Até quem me carregou em seu ventre me prefere assim, só, pois sabe o quão mal me fazem as almas perdidas e assomadas pelo negativismo da infelicidade. E porque não me quer perder. Não quer perder uma batalha com alguém assim. Quanto mais não fosse, ela sim, vale mais, porque, por mais que não tenha estado, continua lá, não desitiu, fácil e rapidamente de mim...

Mas, segue, agora, para onde quiseres, e deixa-me a lamuriar incessantemente sobre as minhas perdas, sobre o que não ganhei, mas acima de tudo, por não conseguir o que quero: olhar o mar e avançar ao horizonte.

Já nem sei quem escreve estas palavras, qual dos meus "mins", dos meus "eus" sente cada uma destas letras. Acho que nenhum, são apenas delírios. Acho que gostava de conseguir sentir tudo isto, porque então estaria vivo... Não serão mais que alucinações psicóticas de quem quer existir. No fundo, talvez nem eu creia em mim...

Quero finalmente virar a página e queimar o livro!

quinta-feira, maio 12, 2005

Destruição

Destróis-me, aos poucos, muito de cada vez, a cada momento que passa, por cada palavra que dizes, por cada olhar que não me diriges...

Destróis-me, com os teus fantasmas, com as tuas dúvidas, com a tua mesquinhez, com a pequenez, da alma e do íntimo, com os teus pêlos e os cabelos, com o cheiro que tens...

Destróis-me apenas por teres existido, apenas por teres sido, apenas por teres estado em mim, na minha vida, no meu passado, presente...

Destróis-me por pensar que poderás estar no meu futuro...

Destróis-me por eu não morrer, destróis-me porque eu continuo vivo, destróis-me porque não morreste sem mim, destróis-me porque tens outro, outros, alguém e eu ninguém...

Destróis-me porque me mentiste, a cada momento que foi passando desde que me prometeste esperar...

Destróis-me...

Pára, pára de ser quem és para mim... deixa-me matar-te cá dentro... vai morrendo, desvanecendo, desaparecendo, aos poucos, muito de cada vez, a cada momento que passa, para sempre...

Fidelidade

A fidelidade não se mede até onde os nossos olhos se perdem, mas se se chegam a perder ou não...

Cruzei-me com muitas almas, muitos corações, muitos pensamentos e vontades, sem no entanto permitir que entrassem em mim, que me movessem as convicções ou me fizessem recear o futuro. Mas há quem assim não seja, há quem ceda, aos outros ou a si próprio. Há quem, por medo de perder, perca. Há quem prometa. Eu não. Eu não prometo. Faço. E por não prometer, por não jurar como outros fizeram e mentiram, têm-me noutra conta, menos sensata talvez. E não sabem como eu sou. Não sabem como eu penso. Não sabem como eu sinto. Mas julgam.

É o que custa: ver que quem partilha connosco as rotinas entediantes de se ser um só, não nos crê. Cede. Cede a opiniões de quem não nos conhece. De quem nunca nos falou. De quem apenas nos viu mas nos julgou.

Fidelidade é isso. Fidelidade é acreditar em quem temos, quando temos! De que serve nunca se ter dado a outros no corpo nem na alma se entregou no espírito e no ser aos julgamentos alheios? Não, não foi fiel. Traiu nos princípios. E traiu no fim, quando a alma pedia uma coisa e o corpo dava outra. Dói. Dói sabermo-nos traídos. Mas doía menos se pedisse desculpa. Só não pede quem não sente. E... "quem não sente não é filho de boa gente"! Mas isso não sei. Nunca lhe conheci o mundo. Sempre deixei que o seu mundo fosse o seu mundo.

Assim, posso estar no meu mundo... triste, infeliz, decrépito e cadavérico na alma, mas o mundo é meu.

E não. Não foste fiel.

Perdoas-te? Espero que sim. Eu já esqueci...

Saudosa Sophia...

Tu que me lerias no que escrevo, penso e sinto... Saudades que deixas pelo que não mais irás dizer, nem escrever, nem sentir... Saudades, de ti: Sophia!


Renascer

Depois da cinza morta destes dias,
Quando o vazio branco destas noites
Se gastar, quando a névoa deste instante
Sem forma, sem imagem, sem caminhos,
Se dissolver, cumprindo o seu tormento,
A terra emergirá pura do mar
De lágrimas sem fim onde me invento.

( em "Coral" de Sophia de Mello Breyner Andresen)

Será que? Toda a vida ouvi esta letra e confiei nela, mas...

(de Alves Coelho)

Teus olhos castanhos
de encantos tamanhos
são pecados meus,
são estrelas fulgentes,
brilhantes, luzentes,
caídas dos céus,
Teus olhos risonhos
são mundos, são sonhos,
são a minha cruz,
teus olhos castanhos
de encantos tamanhos
são raios de luz.

Olhos azuis são ciúme
e nada valem para mim,
Olhos negros são queixume
de uma tristeza sem fim,
olhos verdes são traição
são crueis como punhais,
olhos bons com coração
os teus, castanhos leais.


Só não foram... fiéis...

Verdes são

Redondilhas com mais de 4 séculos nada dizem a muita gente, mas esta, é-me especial... Talvez pela cor do limão... ou não!

Verdes são os campos,
De cor de limão:
Assim são os olhos
Do meu coração.

Campo, que te estendes
Com verdura bela;
Ovelhas, que nela
Vosso pasto tendes,
De ervas vos mantendes
Que traz o Verão,
E eu das lembranças
Do meu coração.

Gados que pasceis
Com contentamento,
Vosso mantimento
Não no entendereis;
Isso que comeis
Não são ervas, não:
São graças dos olhos
Do meu coração.

Luís de Camões

Sol :)

Que saudades tinha eu do sol, da luz, do calor que me aconchega a pele e me faz fechar os olhos e sonhar, esperar voar para longe, para o meio das nuvens e recomeçar..

Mesmo que o céu acinzente, continuo a sentir o abraço quente da minha estrela, que me conforta nestes momentos de maior tristeza e solidão... Sinto-me a chuva da Primavera, que ninguém quer e que toda a gente espera que não apareça... Mas aqui estou eu. Sim, ainda aqui estou, ao contrário do que espero todos os dias. Resisto, subsisto e sobrevivo, impavidamente, sem grande ímpeto, sem vontade, sem motivação. Nem amor, nem ódio, apenas a insipidez da falta de sentimentos pelo que quer que seja...

Pelo menos, poderia odiar-te. Far-me-ia sentir vivo, mas nada disso sou eu capaz de sentir. Nada sou capaz de sentir. Apenas o frio gélido quando o sol não vem, quando não está no meio do azul a sorrir para mim... E tu segues. Segues essa vidinha pequenina que eu não quis para mim. E fiquei com uma menor ainda... Que é feito de mim? Onde me terei perdido de vez nas vezes em que me perdi neste meu amnésico passado?

Queria tanto voltar atrás, aos meus tempos de pequeno, de criança (quase) inocente... Queria voltar a ser capaz de sorrir por mim, sem ser por outro que me imita... Queria tanto esquecer-me de quem me tornei...

Queria ser como o sol: quente e sorridente. Queria ter o sol, queria o céu, o azul do céu como os olhos de...

...

Não sei o que quero. Apenas sei que não quero nem o que sou nem o que tenho. Quero ser outro! Sol!

quarta-feira, maio 11, 2005

Quem és?

Despertas-me a curiosidade, alma que me lês...

Quem estará por detrás desses olhos? Quem tentará compreender o que me diz o coração? Por que te escondes por detrás de uma máscara? Serás como eu: mutante no ser e no estar? Como é possível compreenderes o que escrevo sem saberes quem sou? Regojizo-me de cada vez que encontro uma palavra tua, sábia e sentida, culta e modesta, regrada e sensata...

Talvez te conheça e me conheças a mim, talvez até saibas o que me vai na mente sem que eu dê conta. Resta-me apenas esperar pelo deslindar deste mistério e levantar o véu...

Até lá, espero que vás admirando, sentindo e gostando das penadas que a vida me faz dar...

terça-feira, maio 10, 2005

Luz

É-me compulsiva a vontade de escrever... nada sinto, mas sinto tudo ao mesmo tempo. Neste momento a tortuosidade do meu destino acentua-se. Espero. Aguardo impacientemente a chegada de quem quero, para que saiba que quero. E aguardo... pela luz.

Poucos foram os grãos de areia que percorreram o desfiladeiro da ampulheta desde que sofri como nunca me havia posto a sofrer, julgando nunca mais encontrar um sorriso. Agora, parei a areia. Olharia nos olhos e veria o lado de lá, através do vazio que senti e que agora existe. Para lá: o nada. Apenas o nada. E como poderá o nada ser algo? Resposta: não pode. Pelo menos para mim não. Nem luz, perguntei? Ou a falta dela? Desta vez não.

Einstein diria: assim que nos aproximamos da velocidade da luz, abrandamos... o espaço é relativo, o tempo é relativo. Persegue um feixe de luz, à sua velocidade, e jamais o apanharás... Talvez eu seja assim, um feixe de luz, ou de escuridão, não sei, mas ninguém me conseguirá apanhar na minha magnitude avassaladora de rajada destrutiva de integridades emocionais. Sei que estou à frente, sempre à frente, à espera que me encontrem.. Até decidir ir atrás. E sinto-me, cada vez mais, mais longe, distante...

Desta vez, a distância sabe bem... acho que nunca soubera tão bem... sabe a saudade, de mim, de quem eu já fui, sem nunca ter sido... Agora posso respirar... Agora posso correr, correr atrás da luz... E a luz esperará por mim, até a apanhar... Ou poderei ser eu próprio a luz, e esperar pelo meu sorriso...

Gotas do papão

Cai, como as da chuva caem do céu, do castanho resplandecente da minha alma. Não porque não queira cair, mas porque tenho que expurgar os fantasmas que me atormentam. E assim me liberto...

Sim, continuo a temer o papão da minha infância, o "vilão" que continua e continuará sempre a pairar perto, que respirará o mesmo ar que eu a arfar sobre o meu ombro recordando-me da sua presença... Mas, entretanto, já eu o esqueci, ao vilão da minha vida, ao mau da fita que não me quer mas que não me larga... Mesmo que continue aqui, ao meu lado, à minha frente ou até dentro da minha cabeça, não sei quem é, não o reconheço como é agora, por isso, tento não me recordar mais aquilo que foi ou é para mim, ou até mesmo aquilo poderá ou poderia ser. É apenas mais uma alma estranha, perdida na sua própria ilusão...

Quem me dera ser capaz de desejar felicidades ao meu papão, mas, no fundo, eu conheço-o bem demais, é um fantasma que me acompanhou demasiado tempo e sei que é destrutivo para os outros e para si próprio, capaz de arrasar com qualquer pequeno afecto que se lhe dirija... E sei que será sempre miserável, um pequeno miserável, triste nas alegrias de outros e infeliz nos próprios regojizos...

Quem me dera ser capaz de lhe desejar felicidades, mas sei que do papão e pelo papão, nada mais existe que gotas, gotas desta alma de janelas castanhas...

... como as do papão...

segunda-feira, maio 09, 2005

Será tão difícil perceber?

É incrível como outros definem sensações, pensamentos e medos que todos nós temos e sentimos. Este poema de Neruda define o amor que agora perdi... que me perdeu... e que nunca sequer (me) compreendeu:

Se tu me esqueces

Quero que saibas uma coisa.
Tu já sabes o que é:
Se olho a lua de cristal, os ramos rubros
do Outono lento da minha janela,
se toco
ao pé do lume
a impalpável cinza
ou o corpo enrugado da lenha,
tudo a ti me conduz,
como se tudo o que existe,
aromas, luz, metais,
fossem pequenos barcos que navegam
em direcção às tuas ilhas que me esperam.

Ora bem,
se a pouco e pouco deixas de amar-me,
deixarei de amar-te, a pouco e pouco.

Se de repente me esqueceres,
não me procures,
pois já te haverei esquecido.

Se consideras longo e louco
o vento de bandeiras
que percorre a minha vida
e decidires
deixar-me à margem
do coração em que tenho raízes,
pensa
que nesse dia,
nessa hora,
levantarei os braços
e as minhas raízes irão
procurar outras terras.

Mas
se em cada dia,
em cada hora,
sentes que a mim estás destinada
com doçura implacável,
se em cada dia em teus lábios
nasce uma flor que me procura,
ai, meu amor, ai, minha,
todo esse fogo em mim se renova,
em mim nada se apaga nem se esquece,
o meu amor do teu amor se nutre, amada,
e enquanto viveres continuará nos teus braços
sem abandonar os meus.

(em "Os versos do capitão" - Pablo Neruda)

O cansaço...

Para perceberem a Luísa de "Calçada de Carriche" de António Gedeão, ou sobem a calçada, ou vivem o meu passado:

Luísa sobe,
sobe a calçada,
sobe e não pode
que vai cansada.

Sobe, Luísa,
Luísa, sobe,
sobe que sobe
sobe a calçada.

Saiu de casa
de madrugada;
regressa a casa
é já noite fechada.
Na mão grosseira,
de pele queimada,
leva a lancheira
desengonçada.

Anda, Luísa,
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.

Luísa é nova,
desenxovalhada,
tem perna gorda,
bem torneada.
Ferve-lhe o sangue
de afogueada;
saltam-lhe os peitos
na caminhada.

Anda, Luísa.
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.

Passam magalas,
rapaziada,
palpam-lhe as coxas
não dá por nada.

Anda, Luísa,
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.

Chegou a casa
não disse nada.
Pegou na filha,
deu-lhe a mamada;
bebeu a sopa
numa golada;
lavou a loiça,
varreu a escada;
deu jeito à casa
desarranjada;
coseu a roupa
já remendada;
despiu-se à pressa,
desinteressada;
caiu na cama
de uma assentada;
chegou o homem,
viu-a deitada;
serviu-se dela,
não deu por nada.

Anda, Luísa.
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.

Na manhã débil,
sem alvorada,
salta da cama,
desembestada;
puxa da filha,
dá-lhe a mamada;
veste-se à pressa,
desengonçada;
anda, ciranda,
desaustinada;
range o soalho
a cada passada,
salta para a rua,
corre açodada,
galga o passeio,
desce a calçada,
chega à oficina
à hora marcada,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga,
toca a sineta
na hora aprazada,
corre à cantina,
volta à toada,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga.
Regressa a casa
é já noite fechada.
Luísa arqueja
pela calçada.

Anda, Luísa,
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada,
sobe que sobe,
sobe a calçada,
sobe que sobe,
sobe a calçada.

Anda, Luísa,
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.

E é assim que eu me sinto, como a Luísa se sente: só, abandonada, sozinha e cansada... Também eu estou cansado de não me deixarem viver a vida que mereço...

Lê e escreve, mas não esqueças que já não magoas...

Queima de...?

A Queima das Fitas é para uns, o culminar de um ano de actividades académicas enquanto que, para outros, não é mais do que uma série de concertos entremeados por ingestões de poções mágicas feitas sabe-se lá de quê... Para mim, esta Queima foi uma revolver de emoções, surpresas e desilusões.

As desilusões devem-se a quem não, ou melhor, a quem nunca me mereceu. As surpresas prendem-se a tantas pessoas que mostraram ser importantes para mim, mas principalmente, as muitas que me acham importante para elas... E isso foi uma surpresa... Afinal não sou tão mau como durante dois anos fui achando ser... Talvez ainda haja esperança para mim, por aí...

E entretanto, tive a sorte de ver um sorriso, nada tímido, todo para mim, nestes dias... Não sei se sorriu para mim da forma como gostaria; não sei se no futuro ir-me-á sorrir muitas mais vezes, mas foi o suficiente para perceber que este coraçãozito quebrado ainda tem hipótese de reanimação e ainda pode olhar, sorrir e sentir um sorriso de volta...

Sabem quando começamos a olhar para alguém que achamos especial e nos apercebemos dos seus defeitos e não os vemos como defeitos? Há quem diga que isso é apaixonar... Foi exactamente isso que eu, mesmo que demasiadamente enebriado pelos licores desta Queima fiz... Olhei para aquele sorriso, a olhar-me nos olhos, e percebi que aquilo que para os outros seriam defeitos, para mim eram maravilhas, nuances incontornáveis de beleza e percebi que me tinha apaixonado...

No passado, apaixonei-me na cidade das luzes, mas provavelmente apaixonei-me pela ideia de lá me apaixonar... Talvez no presente me apaixone apenas pela ideia de ser capaz de voltar a sentir isto... Mas está a saber tão bem... depois de um par de anos a sofrer demais, sabe muito bem sentir-me vivo, novamente, como no passado...

Terei esquecido tudo deste presente ido agora para o meu passado? Não, isso não é possível... Não é possível esquecer o presente, nem tampouco o passado: perdoo, mas nunca esqueço! E sim, perdoei, se é que tenho algo a perdoar a quem quer que seja senão a mim próprio...

Agora, no futuro, resta seguir em frente...

e sorrir ao meu sorriso :)

quinta-feira, maio 05, 2005

O peso da lâmina

Carrego comigo uma lâmina que resolveria os meus dias. Passo os momentos a pensar na sensação fria e suave do fio a roçar a minha pele e a deslizar lentamente até se poder deleitar num banho quente de alma perdida. É incrível como algo tão pequeno e leve pode mudar o rumo dos nossos destinos. E como nos pode fazer perder a noção do tempo enquanto obcecamos.

É leve, quando pegamos nela, mas pesa demais quando pensamos no que ela é capaz.

Mas, mal me aconchego na ideia de me perder, vejo as lágrimas de quem me quer bem, de quem, por instantes, sentiria a minha ausência. E vejo a dor de quem já perdeu, de quem sofre, ainda, por ter perdido... e penso se poderei eu ser egoísta ao ponto de provocar alguma angústia a quem nos quer.

"Pior do que nos morrer um filho, é ter um filho que quer morrer..."

segunda-feira, maio 02, 2005

Rasguei as esperanças, e tudo acabou.

E tudo acabou, com um rasgo. O rasgão, que deveria provar que o amor existe, foi dado sozinho, isolado e só. E perdeu-se. E então, outro ficou por dar. E tudo acabou, com um rasgo. Um único rasgo quando deveriam ter sido dois juntos, ao par, como um só.

E o meu suicídio sentimental ficou por ali. Deixei de morrer aos poucos para ficar a ver, ao longe, o definhar de quem já fez parte de mim. Aquele rasgão foi isso mesmo, o separar das partes, o dizer: "já me libertei e essa parte já não é minha, podes ficar com ela".

Quão difícil é perder parte de nós? Alguém mais saberá o quão difícil é dar parte de nós, perder parte de nós e ter que a esquecer, ter que lhe ser indiferente? Indiferente à sua dor, mas principalmente à sua alegria. Dói tanto quando essa parte de nós sorri com com parte de outro. Mas dói mais quando temos que ficar indiferentes a isso. Ou quando isso já nem sequer provoca nada em nós e somos realmente, inatamente digo, indiferentes...

E o que mais se temeu, durante o tempo que não havia indiferença, aconteceu.

Foi então que tudo acabou. E tudo acabou... com um rasgo.