Será tão difícil perceber?
É incrível como outros definem sensações, pensamentos e medos que todos nós temos e sentimos. Este poema de Neruda define o amor que agora perdi... que me perdeu... e que nunca sequer (me) compreendeu:
Se tu me esqueces
Quero que saibas uma coisa.
Tu já sabes o que é:
Se olho a lua de cristal, os ramos rubros
do Outono lento da minha janela,
se toco
ao pé do lume
a impalpável cinza
ou o corpo enrugado da lenha,
tudo a ti me conduz,
como se tudo o que existe,
aromas, luz, metais,
fossem pequenos barcos que navegam
em direcção às tuas ilhas que me esperam.
Ora bem,
se a pouco e pouco deixas de amar-me,
deixarei de amar-te, a pouco e pouco.
Se de repente me esqueceres,
não me procures,
pois já te haverei esquecido.
Se consideras longo e louco
o vento de bandeiras
que percorre a minha vida
e decidires
deixar-me à margem
do coração em que tenho raízes,
pensa
que nesse dia,
nessa hora,
levantarei os braços
e as minhas raízes irão
procurar outras terras.
Mas
se em cada dia,
em cada hora,
sentes que a mim estás destinada
com doçura implacável,
se em cada dia em teus lábios
nasce uma flor que me procura,
ai, meu amor, ai, minha,
todo esse fogo em mim se renova,
em mim nada se apaga nem se esquece,
o meu amor do teu amor se nutre, amada,
e enquanto viveres continuará nos teus braços
sem abandonar os meus.
(em "Os versos do capitão" - Pablo Neruda)
1 Comments:
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Enviar um comentário
<< Home