O meu átrio
Saudades do meu átrio. Hoje pulula de vida e de gente. Está fabulosamente colorido pelas pessoas que nele estão e que por ele passam. Faz-me recordar quase uma década aqui passada, de histórias, risos e partilhas, sorrisos e pensamentos, mãos, abraços, beijos, na face, no pescoço, na alma, de perto e de longe, recordo quente e frio, cor e cinzentos, tanto, tanto, que este átrio me faz recordar.
Sinto que me fiz aqui, em encontros e desencontros, em pessoas que já foram, que estão ou que acabaram de chegar. Em livros que reconheço, em páginas que nunca li, em folhas, papéis, imagens. Sinto-me como se de um peça desta mobília me tratasse. Como se, tendo-me eu aqui feito, aqui devesse e pudesse continuar, como pertencente ao mesmo conjunto.
Queria fundir-me, com estas paredes, estas colunas, este chão. Queria ser este rosa e este branco, ou o beje e preto. Queria ser a luz que vem de cima, ou o fresco da brisa que percorre entre as portas da fachada e os vaivéns do corredor.
Queria ser o centro e a periferia. Queria ser tudo e, no fundo, quero ser parte, quero apenas ser, neste átrio.
E a saudade sente-se porque em breve me vou. Sem nunca ir. E hei-de sempre por cá ficar.
Esta é a minha casa. E este: este é o meu átrio.
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