Gotas do papão
Cai, como as da chuva caem do céu, do castanho resplandecente da minha alma. Não porque não queira cair, mas porque tenho que expurgar os fantasmas que me atormentam. E assim me liberto...
Sim, continuo a temer o papão da minha infância, o "vilão" que continua e continuará sempre a pairar perto, que respirará o mesmo ar que eu a arfar sobre o meu ombro recordando-me da sua presença... Mas, entretanto, já eu o esqueci, ao vilão da minha vida, ao mau da fita que não me quer mas que não me larga... Mesmo que continue aqui, ao meu lado, à minha frente ou até dentro da minha cabeça, não sei quem é, não o reconheço como é agora, por isso, tento não me recordar mais aquilo que foi ou é para mim, ou até mesmo aquilo poderá ou poderia ser. É apenas mais uma alma estranha, perdida na sua própria ilusão...
Quem me dera ser capaz de desejar felicidades ao meu papão, mas, no fundo, eu conheço-o bem demais, é um fantasma que me acompanhou demasiado tempo e sei que é destrutivo para os outros e para si próprio, capaz de arrasar com qualquer pequeno afecto que se lhe dirija... E sei que será sempre miserável, um pequeno miserável, triste nas alegrias de outros e infeliz nos próprios regojizos...
Quem me dera ser capaz de lhe desejar felicidades, mas sei que do papão e pelo papão, nada mais existe que gotas, gotas desta alma de janelas castanhas...
... como as do papão...
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