sábado, novembro 26, 2005

"Estás bem?"

"Estás bem?" - perguntaram como quem realmente quer saber.

Não consegui responder.

Queria poder ter dito: "não, não estou, sei que não estou nada bem." Mas disse apenas que estou na mesma!, como se isso adiantasse o que quer que seja. Sei que me entenderam, talvez como se a resposta tivesse sido a mesma de há semanas, meses ou anos. Mas, não é. Passaram semanas, meses, anos, desde o momento em que não estava bem. Agora não estou, agora sinto que não tenho nada pelo que estar, pelo que ser o que quer que seja. Qualquer reacção que me leve organicamente a sorrir é inexistente por inerência espontânea. Sorrio, muito, a tudo e todos porque esperam o meu sorriso. Mas, é apenas um mostrar de dentes sem que o meu ser o esteja a fazer na realidade.

Estou mal, mas prefiro não acreditar na decadência da alma, compensada por um corpo que sofre horas em exercícios extenuantes e intermináveis. Sim, o corpo pode sofrer mas a alma já não suporta nem tolera mais pesos, mais repetições, mais golpes.

Estou acabado, sinto-me acabado.

Até o texto perde essência a cada frase, a cada palavra, a cada letra...

Mas, não sou eu quem se sente assim. Não apenas eu. Existe um mundo de gente à minha volta que poderia escrever cada linha dos meus textos. Há tanta gente que sente o que eu sinto, que olha para o mundo com desgosto, por não ser o que era, por não ser o que poderia ser, por não ser o que cada um de nós gostaria que fosse.

Será que existe Céu? Será que existe realmente um Outro Lado? Espero que não. Não quero voltar a encontrar um vazio como aquele que existe do Lado de cá! Quero mesmo que não haja nada. Não quero encontrar nada. Quero apenas aquele tão desejado ponto final. Será tão difícil isso? O ponto final?

"E a tua mãe?" - perguntaram como quem realmente quer saber.

Pois, é esse cordão umbilical que agora não consigo cortar. Cada vez me custa mais tentar. Outrora a dificuldade era nula, a preocupação inexistente. Mas, ninguém pode ter o direito a um egoísmo destes. Não podemos viver por outros, tal como os outros não deveriam morrer por nós. Nem eu tenho o direito de ir matando, aos poucos, sem conseguir fazê-lo a mim...

Continuo o covarde que deseja algo que não tem a coragem para deixar de o desejar!