sexta-feira, setembro 02, 2005

Perfeição

Cada vez mais me sinto próximo de uma nova reviravolta na minha vida... quase a acabar aquilo que comecei há quase uma década (sim, o tempo passa depressa, mas mais depressa no relógio que na minha pele, é o que me vale...)!

Todos os dias me sento diante do meu fado e tento produzir, sempre com medo de o fazer,sempre com a vontade de não o fazer pois isso implica um fim, uma fase quase terminal. Escrevo e apago as palavras que ditarão o meu destino. Como que se tivesse mesmo medo desse meu destino.

Estou numa área em que não posso falhar, em que não são admitidos erros, em que de mim dependem vidas. Pequenas vidas que não sabem porque sofrem quando sofrem... E eu não sei se estou pronto para esse risco!

Sempre tive medo de errar. Este meu maldito perfeccionismo sempre me perseguiu. Mas, quando era mais novo e não errava, tinha confiança e auto-segurança para isso mesmo, para não errar. Pensava, previa e tinha o sangue-frio para fazer tudo certo.

Depois, depois comecei a sentir e deixei de pensar. Abdiquei do meu racionalismo inato para uma espécie de imposição psicoemocional. "Tens que sentir!" - dizia-me eu... E para quê? Para isto? Para achar que não sou capaz de fazer nada, para partir do princípio de que farei tudo mal e mal... Mesmo quando faço as coisas bem, acho que as poderia ter feito melhor. Se acho que não sairá perfeito não faço. Estou assim. Hoje em dia sou assim, incapaz de me empreender no que quer que seja porque nada pode ser perfeito!

Mesmo em termos afectivos já não me entrego nem me empenho. Como sei que as pessoas mais cedo ou mais tarde me vão desiludir enquanto companhia, enquanto alguém que deveria estar a meu lado e que me deveria saber ler, deixei de acreditar que algum dia venha realmente a estar com alguém. Mas, ao contrário do que se passou neste últimos anos de investidas e subsequentes desilusões amorosas, agora isso não me incomoda nem me assusta. Não sei se me terei conformado ou apenas apercebido que sou assim e estou destinado a estar melhor comigo que mal com outra pessoa, mas o que é certo é que agora, nesse campo, sinto-me realizado. Tudo porque me apercebi desse tão pequeno pormenor: nada é perfeito!




Ou... quase nada, já que há quem saiba amar porque não tem em si a "condição humana"!

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Na serenidade das pequenas coisas, e na sua "imperfeição", reside todo o segredo... É viver na consciência de ti mesmo, e sem julgamentos, que encontras a "perfeição"... mesmo a de um grande amor (e aqui, todas as pequenas coisas conquistadas, vividas e partilhadas, podem ser, claro, um grande amor...) Espero que entendas... Sorriso e beijo carinhoso *

03 setembro, 2005 02:19  
Blogger Daniel said...

Para todo o fim existe um início, todo o ciclo dá lugar ao seguinte, tudo morre e tudo nasce a cada instante. Nascer e morrer estão tão indissociados que não é possível nascer sem ter de morrer, ou morrer sem ter de nascer...

Já os latinos diziam, "errare humanum est", e com razão, já que é o erro que possibilita o esclarecimento, e o esclarecimento que possibilita a compreensão. E nós aprendemos com os erros. Aprendemos aquilo que não queremos e, assim, indirectamente, restringimos o que há ao que queremos.

Não esqueçamos também Descartes, o seu cogitar, e mais importante, o seu erro. Afinal Freud também tinha razão. Ou como poderia dizer Pessoa, ser é sentir, e sentir é tudo o que temos. Razão e sentimento são duas faces de uma moeda só que é o ser humano.

Tudo é perfeito quando tudo está na devida proporção. A perfeição é a harmonia do equilíbrio dos contrários. Por isso a perfeição não é só bem, é também mal. Não é só acertar, é também errar. Não é só aprender, é também desaprender. E quando cada coisa ocupa o seu lugar - aí está a perfeição.

Os meus votos vão no sentido de que aproveites este novo ciclo que para ti começa agora, e com ele possas renascer para a perfeição.

03 setembro, 2005 02:31  

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