Dor
Era já de noite, agora quando regressava a casa, a pensar na minha vida e a olhar para o meu umbigo quando vi uma mulher, de faces marcadas e rugas profundas que lhe revelavam mais anos que aqueles que havia efectivamente vivido...
Trazia consigo um saco de compras, de plástico, daqueles que trazemos novos de qualquer superfície comercial. Mas, ela não estava em nenhum desses locais elegantes e iluminados, repletos de extras que não precisamos. Estava a recolher os despojos de quem muito tem e nada quer, estava a aproveitar aquilo que muitos acham já não ter utilidade...
À medida que me cruzei no seu caminho estava a afastar-se e olhou para mim como nunca ninguém olhou. Olhou-me com palavras naqueles olhos lavados em dor e em vida.. Olhou-me como quem diz "é o que posso", não foi "é o que quero" nem nada semelhante...
E perco-me eu em pequenas minhas misérias,em pequenos nadas que me atormentam quando afinal olho à minha volta e tenho tanto... Queremos sempre a galinha da vizinha e não reparamos que a nossa também tem as penas todas e cresce vigorosa...
É nestes encontros da vida que duvido que seja "Insensível" como gostaria de ser... Só consigo sentir dor, principalmente este tipo de dor, dos outros, de quem sofre sem ter opção...
E depois não consigo esquecer a dor das palavras nos olhos daquela mulher...
E caio a chorar, como há muito não o fazia. Choro, mas não por mim... Também não choro por aquela mulher. Choro por haver muitas palavras como aquelas, em muitos outros olhos... choro por ela já não saber chorar.
Afinal, há lágrimas que são luxos! Como as minhas...
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