quinta-feira, julho 07, 2005

Já não sou eu, entendem?

Quantas já não foram as vezes em que tivémos uma sensação de dejá vu sinistra, não daquelas engraçadas que relatamos imediatamente aos amigos, mas das outras, que nos assustam e nos fazem rever muito de nós?

Ontem foi um dia totalmente para esquecer! Não por ter ocorrido algo extremamente desagradável mas por não ter feito nada, absolutamente nada. E que faz alguém quando nada faz? Resposta: pensa! Ai, ai, já sei... pensar faz mal! E então a mim, pior ainda!

Mas, ontem não. Ontem não fez nem bem nem mal. Não fez nada a não ser pôr-me a chegar a conclusões às quais já deveria ter chegado há muito tempo. Comecei a reparar que quem me rodeia não me conhece ou, então, inevitavelmente, apenas conhece alguém que eu lhes mostrei em tempos mas que agora não mais existe! Enquanto que eu evolui, várias vezes nesta humilde existência, quem me rodeia não foi capaz de acompanhar as minhas mudanças, não evoluiu comigo nem eu evolui nelas, na cabeça delas! Cheguei à conclusao que ninguém me conhece mesmo!

E a tristeza de estarmos sós no mundo é sentida assim: no desamparo da solidão da autosciência... Estamos sós enquanto não formos capazes de ser alguém para outro. Alguém não, enquanto não formos capazes de sermos nós próprios em e para quem nos vê!

Não que não tenha amigos. Tenho-os! Alguns há décadas o que é muito bom e prezo-os muito. Mas só lamento eu não ser o amigo que eles pensam... Se visse através dos olhos deles, eu não seria capaz de me encontrar na multidão. Ou eu sou esquizóide o suficiente para não me reconhecer ou... não sei... talvez eles tenham parado no meu passado e não reparem que já não sou quem era!

Gente: Andei! Evoluí! Cresci! Sou eu, lembram-se!?

A sensação por vezes é a de ser eternamente criança, eternamente "o filho" para os pais! Só quero que percebam que eu mudei! Para melhor ou pior, estou diferente! Estou com outra postura na vida, tenho outras ambições e tenho outras expectativas! Não quero nem menos nem mais do que queria antigamente! Quero simplesmente coisas diferentes!

O que eu quero? Não sei... mas vou descobrindo a cada dia que passa... O que sei é que eu, eu já não sou (o vosso) eu!

7 Comments:

Blogger Angelica said...

É importante evoluir, é tão bom não ficar parado no tempo, é tão bom mudar de gosto, mudar de atitude, mudar de vida, enfim, nem toda a gente consegue, só os corajosos, e tb é mts vezes difícil de perceber para os que nos rodeiam ....
bjs, gosto mesmo muito do q escreves

07 julho, 2005 11:02  
Anonymous Anónimo said...

É estranho que os que nos rodeiam e são mais próximos de nós, são os que mais custam a aceitar e compreender que mudamos, crescemos, e no entanto continuamos nós. Os que melhor nos conhecem, são os últimos a perceber... é estranho...
Beijokas*

07 julho, 2005 22:39  
Anonymous Anónimo said...

Com estas palavras só revelas realmente aquilo que és...és constantemente mutável,diferente, unico,inigualável, ímpar, singular, o que queiras...a TUA diferença/evolução está apenas no personagem que decides que queres ser, porque na génese o teu desejo, sempre foi e é o mesmo...e acredita EU SEI!!!!!

E esta gente que te escreve (com nome de papa!!!) não sabe realmente o que diz, que aceitação poderás querer mais, do que te achar o mesmo com cabelo azul, ou rosa, ou com tranças, ou cabelo que 5 metros, ou sem cabelo de todo, eu digo-te ... a aceitação que quem sabe como és.

Mahomé já dizia que é mais fácil acreditar que uma montanha mudou de lugar do que um homem mudar o seu carácter, assim, mesmo que sejamos permeáveis ao que nos rodeia e que rodeamos, continuamos a existir na mesma matéria...essa não muda.

Uma peça feita de barro não pode de repente deixar de ser de barro e passar a ser de geleia de morango....pode sim ser cozida e evoluir para uma peça de barro mais durável e brilhante...

Mas a piada de tudo, é que já perdi a conta às vezes, ao longo de todos estes anos, em que te colocaste a mesma questão que agora colocas...talvez a evolução seja mais um ciclo, como o da água ou da bolsa...PENSA NISSO!ou melhor, não penses, age - RES NON VERBA!!!!

Se existem certezas na vida, esta é uma delas...daqui a 20 anos, vais estar igual...(com 200 rugas e bicos de papagaio, ainda atrás de companhia com metade da idade... lol)

bjinhos

:) Sónia

07 julho, 2005 23:22  
Anonymous Anónimo said...

Insensível...

08 julho, 2005 02:52  
Anonymous Anónimo said...

(enganei-me na msg anterior: é o que carregar em wrong button...)

Insensível... é um pouco irónico alguém que sente tanto e com tanta intensidade sobre si mesmo, sobre a vida e sobre tudo o que o rodeia autoproclamar-se "insensível". Insensíveis são as pessoas que lêem um texto e o acham belo pelas palavras caras ou pelas curvas com que o texto é construído, ou mesmo por ser apenas um texto, algo para ler. O que é importante é aquilo que está antes (por detrás?) do que se escreve, a mensagem que se quer passar, a vida, o sentimento, a experiência, a sabedoria, e não um punhado de palavras ocas. O importante é a mensagem. O que importa realmente é a intenção. E intenções nobres vêem-se pelos actos das pessoas. Por aquilo que são. Pela forma como se movimentam. E pela maneira que arranjam para exprimir o que pensam e o que sentem (tarefa, aliás, nada fácil, por vezes). Escusado será dizer que também eu me revi naquilo que escreveste.

Relembro agora, com saudade, alguém que partiu para mais uma grande viagem. Fizeste-me lembrar o grande Eugénio, e o seu poema à mãe.

Mas - tu sabes! - a noite é enorme
e todo o meu corpo cresceu...
Eu saí da moldura,
dei às aves os meus olhos a beber.
Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
Deixo-te as rosas...
Boa noite. Eu vou com as aves!

E dedico-te esta passagem, das mais belas, dedico-te a ti e a todos os que mudam, a todos os que sentem e a todos os que remam contra a maré. E não é preciso sequer apontar nomes, porque eles sabem quem são.

O sonho, a vida, a morte, o belo e o amor. A noite e o escuro. A neve e o Sol. A Lua e a água. A árvore e a fonte. São estas as coisas que nos guiam, é esta certeza de sermos quem somos e de querermos incansavelmente procurar-nos no centro de nós próprios que nos faz viver. E "quem tem alma não tem calma/Quem vê é só o que vê/Quem sente não é quem é". Disso percebia o Pessoa. Mas também sabia que não era o único a outrar-se. Nós estamos constantemente a fazê-lo. Mas a verdade é que o centro, na realidade, não muda. Cada um é o que é. Cada um é a dádiva que é. Cada um é tudo e nada cá dentro e lá fora, e tudo ao mesmo tempo.
Viver é fantástico, ser é fantástico. Sentir é especial e mudar vital. E mesmo que Maomé não venha a montanha, ela virá, no seu momento, a Maomé.
E cá estaremos nós de braços abertos.

Um abraço

Daniel

08 julho, 2005 03:10  
Anonymous Anónimo said...

«Cada um é o que é. Cada um é a dádiva que é. Cada um é tudo e nada cá dentro e lá fora, e tudo ao mesmo tempo.» Concordo contigo, Daniel. Apesar de possíveis segundas interpretações do que por aqui se diz, continuo a gostar de te ler, sem pretensões e julgamentos.Um sorriso de bom fim de semana Marco*

08 julho, 2005 20:50  
Anonymous Anónimo said...

Pela pessoa que eras quando eu te conheci e que desde o primeiro instante me fascinou, pela pessoa que és agora, após este renascer das cinzas, e por tudo aquilo que ainda tens dentro de ti para oferecer ao mundo... mereces uma resposta muito melhor do que aquela que eu te posso dar aqui por escrito.

A gente vê-se por aí. E nessa altura falamos... atélá tem fé nas pessoas e acredita que elas crescerão contigo.

Um abraço enorme
espiroqueta

10 julho, 2005 01:42  

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