segunda-feira, abril 10, 2006

Sol de inverno

Os dias passam e as angústias acumulam-se.

O passado volta, para assombrar. Para me recordar que nunca se irá ausentar, nunca deixará de estar. Volta e traz novidades. Vejo coisas que não queria ver, que não queria ter visto. Descubro que me traíram. Descubro que magoaram. Antes e agora, quando já nada me devia poder ter feito.

Gostava de resistir, gostava de pensar que nada disto era o meu mundo. Os amigos vêm mais fundo. Com os estranhos é mais fácil. Mas ninguém compreende o que vai dentro de mim. Nem eu talvez.

Queria ser um fado vadio... mas não passo de versos sem rima. Tento, na prosa, encontrar a paz que tanto e tão desesperadamente procuro. Sei que tenho mãos às quais me posso agarrar, ombros nos quais posso chorar, abraços onde me reconforto. Mas queria lábios à espera de um sorriso, queria olhos à espera de um brilho, um coração que palpitasse mais depressa por mim.

Se fosse uma estação, seria inverno, porque o outono ainda tem o brilho dourado da vida a decair, a primavera é acolhedora e romântica e o verão é quente e sorridente. O Inverno é apenas uma morte transitória, uma pausa num ciclo. Hoje estou parado, sinto-me morto. Hoje, sinto-me um Inverno, um Inverno sem sol...